A Entre Idades participou no evento “A Rua é Sua”, a 27 de outubro, entre as 10h e as 18h, na Av. da Liberdade. Esta atividade foi realizada no âmbito do Projeto Lxiis+ – Projeto mais Lisboa, mais idade, mais informação e mais saúde, um projeto Entre Idades e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.
Sabe-se que, muitas vezes, os constrangimentos na mobilidade no geral, e na mobilidade sénior em especial, surgem devido a uma variedade de situações que, podem ser reunidas em 4 grandes áreas: física, psicomotora, psicoemocional e cognitiva. Estas alterações ocorrem de forma natural no processo de envelhecimento, levando à perda da capacidade da pessoa em se movimentar pela cidade. Neste cenário é de suma importância efetuar o despiste de situações que possam estar a comprometer e/ou agravar as limitações na mobilidade, por exemplo na deslocação nos passeios ou no uso dos transportes públicos, e, assim, evitar a prevalência de quedas e respetivas consequências como a perda de autonomia.
Assim, ao longo do dia, disponibilizou-se à população idosa (com mais de 65 anos ou, menos desde que esteja em situação de reformada ou pensionista), tanto residente como visitante de Lisboa, Rastreios de Saúde nas dimensões cognitiva, psicomotora, física e psicoemocional. A cada participante avaliou-se as diferentes dimensões envolvidas na mobilidade, aferiu-se o risco de poder vir a ocorrer limitações na mobilidade, o despiste de situações causadoras da mesma e investimos na promoção da saúde, com estratégias in loco, de como a pessoa idosa pode minimizar determinada situação que esteja a afetar a sua mobilidade e viver com mais segurança, Qualidade de Vida e Bem-estar.
A população total participante foi constituída por 24 pessoas, 8 homens e 16 mulheres, entre os 54 e os 90 anos de idade, com uma média de idades de 73,3 anos. No que diz respeito à origem dos participantes, 15 pessoas vivem nas freguesias do concelho de Lisboa (Penha de França, Santo António, Santa Maria Maior, Campolide, Misericórdia, Arroios, Lumiar, Areeiro, São Domingos de Benfica e Benfica) e 9 residem nos concelhos limítrofes, como Amadora, Setúbal, Seixal, Moita e Barreiro e, usualmente visitam a cidade de Lisboa. Houve também a participação de uma senhora natural da Guarda, que aproveitou a visita a um amigo para passear na Avenida e realizar os Rastreios de Saúde.
Relativamente ao Rastreio de Saúde Cognitivo, foram realizados 20 rastreios, a 14 pessoas do género feminino e 6 do género masculino, com uma média de idades de 74 anos e uma variância etária entre os 63 e os 85 anos.
Através da aplicação do Mini Mental State Examination, foram avaliados os processos cognitivos – Orientação, Retenção, Atenção e Cálculo, Evocação e Linguagem, permitindo averiguar possíveis indicadores de suspeita de défice cognitivo, entre os participantes.
Mediante a leitura dos resultados obtidos, pode aferir-se que a amostra não apresentou suspeita de défice cognitivo, revelando, no entanto, algumas preocupações típicas do avançar da idade, nomeadamente preocupação com alegadas dificuldades de memória ou de atenção, bem como, queixas de índole mais física, como as relativas a dores e ao impacto negativo da perda de capacidades (motoras, etc.), o que revela algum distress que estas questões provocam a nível cognitivo.
No que diz respeito ao Rastreio de Saúde Psicomotor, foram efetuados 17 Rastreios Psicomotores, a 11 pessoas do género feminino e 6 do género masculino, com uma média de idades de 73 anos e uma variância entre os 63 e 85 anos.
Para tal, recorreu-se a uma checklist de fatores psicomotores – Equilíbrio, Noção do Corpo, Praxias Global e Fina, construída a critério, para monitorizar o desempenho psicomotor e despistar possíveis situações desviantes do envelhecimento dito normal.
Da análise dos resultados obtidos, pode-se observar que a amostra atendida revelou maioritariamente um desempenho adequado para a faixa etária. Tendem a preservar a sua consciência corporal e motricidade global e dissociação de movimentos, surgindo algumas hesitações ao nível do reconhecimento esquerda-direita no outro. Foram observados, como fatores mais desafiantes para os participantes, as tarefas de equilíbrio estático, decorrente da presença de algumas doenças osteoarticulares e musculoesqueléticas, que prejudicam o seu desempenho. Nas pessoas idosas, os movimentos corporais tendem a ser mais lentificados, mais bruscos e impulsivos.
Relativamente ao Rastreio de Saúde Psicoemocional, foram efetuados 17 Rastreios, a 11 pessoas do género feminino e 6 do género masculino, com uma média de idades de 74 anos e uma variância entre os 63 e 85 anos.
Este Rastreio pretende a aferição do grau de Bem-estar global e a sinalização precoce de situações de fragilidade psicológica e/ou emocional. Trata-se de um Protocolo construído a critério, com itens relacionados com as diferentes dimensões do conceito de Bem-estar (Subjetivo, Psicológico, Social e Físico).
A Dimensão de Bem-estar Subjetivo relaciona-se com a compreensão da avaliação cognitiva-emocional que a pessoa faz da sua vida; Bem-estar Psicológico diz respeito ao resultado do desenvolvimento e funcionamento que abrangem a área da perceção pessoal e interpessoal; Bem-estar Social reflete a capacidade de enfrentar desafios sociais e de realizar tarefas sociais e, finalmente, a dimensão do Bem-estar Físico evidencia a perceção da pessoa relativamente ao seu estado de saúde, aptidões e aparência física.
Da análise dos resultados, pode-se observar que, de uma forma geral, a amostra apresenta evidências de Bem-estar global. Nos casos em que existe a presença de Bem-estar global inferior, este perfil tende a estar associado a menores níveis de Bem-estar Subjetivo e Psicológico. Estes indicadores estão em linha com as queixas apresentadas pelas pessoas idosas, referentes a solidão e isolamento, situações de Luto e preocupações relativas à família.
Finalmente, no Rastreio de Saúde Físico, foram efetuados 21 Rastreios, a 14 pessoas do género feminino e 7 do género masculino, com uma média de idades de 73 anos e uma variância entre os 54 e 90 anos.
O Rastreio Físico pretende aferir os sinais precoces de declínio da mobilidade e de risco de quedas na população idosa. Para isso, foram aferidas as dimensões de Equilíbrio, Postura e Marcha e Risco de Quedas.
Decorrente da análise dos resultados obtidos, pode-se aferir que, em termos gerais, os participantes apresentaram um desempenho normal, para a faixa etária, relativamente às dimensões Postura e Marcha e Equilíbrio. Parte da amostra apresenta risco moderado de queda, uma vez que, nos últimos 12 meses, teve pelo menos um episódio de queda, sem necessidade de recorrer aos cuidados médico e não relata dificuldades de equilíbrio. Este indicador é muito relevante, tendo em conta a presença de patologias osteoarticulares e musculoesqueléticas associadas.
Em suma, os resultados dos Rastreios seguem a tendência normativa do envelhecimento, com a inerência das patologias osteoarticulares e musculoesqueléticas associadas, bem como alguma labilidade psicoemocial resultante de, por exemplo, situações de solidão e isolamento e de luto.
Sugere-se a adoção de intervenções de caráter preventivo, como por exemplo, realização de atividades físicas na comunidade, atividade de lazer, implementação de estratégias para ter uma casa amiga das pessoas idosas, atividades de promoção da literacia em saúde para ser mantida a funcionalidade e a participação por mais tempo
Na Entre Idades, existe a preocupação em medir a qualidade de tudo o que é desenvolvido. Para tal, med-se o impacto social que as suas intervenções têm e o grau de satisfação que geram, junto, e em primeiro lugar, das pessoas idosas, suas utentes, depois dos restantes stakeholders (voluntários, técnicos, entre outros). Assim, da avaliação feita aos participantes no Rastreios de Saúde desenvolvidos no evento “A Rua é Sua”, obtiveram-se os seguintes resultados:
- O Impacto Social dos Rastreios de Saúde, situou-se no patamar mais alto (da nossa escala de Avaliação de Impacto Social que conta com 5 patamares), Alto Impacto Social.
- Quanto à aferição do Grau de Satisfação Global, a pontuação de 5 (escala de 0 a 5), o que revela um Alto Grau de Satisfação de todos os participantes.
A atividade foi tão gratificante que contagiou as pessoas envolvidas. Ao longo do dia, a Entre Idades foi mimada pelos participantes no evento. Por exemplo, o Sr. Oliveira, com um aperto de mão firme, referiu: “Palavra de honra, valeu a pena estar aqui convosco”, a Dona Maria: “Já fiz muitos rastreios, mas destes nunca” e a voluntária Sónia: “Tenho de estudar para uma frequência, mas não podia faltar”.
Em Suma, o progressivo envelhecimento da população é atualmente um desafio para a sociedade. Não basta apenas viver mais, é igualmente importante viver bem, com melhor bem-estar global e maior qualidade de vida, em rigor com o que a Organização Mundial de Saúde preconiza para séc. XXI.
Neste sentido, é de louvar iniciativas como esta – A Rua é Sua, da Câmara Municipal de Lisboa, tão amiga da mobilidade e atenta às suas pessoas idosas, consciencializando a comunidade para a necessidade de se promover um envelhecimento ativo, seguro, saudável, bem-sucedido e feliz.
Um agradecimento à Pedalar sem Idade Lisboa que proporcionou momentos fantásticos aos nossos participantes durante o tempo de espera entre Rastreios.
Finalmente, um especial e genuíno agradecimento à equipa do Departamento para os Direitos Sociais e à da Divisão de Informação e Promoção da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, por nos ter desafiado a celebrar a mobilidade sénior em Lisboa e por nos ter apoiado em todo o evento.
Esta atividade foi realizada no âmbito do Projeto Lxiis+ – Projeto mais Lisboa, mais idade, mais informação e mais saúde, um projeto Entre Idades e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.