Que tipo de relações alimenta na sua vida?

No passado mês de maio tivemos a oportunidade de falar, no direto mensal da Entre Idades nas redes sociais, sobre a importância das relações e de se alimentar relações saudáveis e positivas. Vamos relembrar um pouco do que foi dito pelo nosso Psicólogo Luciano Jesus.

As relações são uma das dimensões mais complexas das nossas vidas. Exigem investimento, tempo, atenção e energia emocional, mas não oferecem garantia de retorno proporcional ou semelhante. Há alturas em que nos sentimos totalmente em comunhão com a outra pessoa e outras alturas em que sentimos que temos uma relação vazia e sem sentido (e até, em algumas situações, quando se trata de uma relação tóxica). As relações são essenciais, umas surgem instantaneamente, outras são investidas ao longo do tempo, umas duram uns momentos, outras uma vida. Mas, em todas há ganhos e cedências, trocas e aprendizagens.

 

Então o que são relações humanas?

As relações humanas implicam, necessariamente, a existência de pelo menos dois indivíduos. Trata-se do conjunto de interações que mantêm os indivíduos no seio de uma sociedade e têm por base vínculos, sejam emocionais, familiares, sociais, profissionais ou hierárquicos. Considera-se que as relações humanas são primordiais para o desenvolvimento individual e intelectual de cada ser humano e que, da nossa capacidade de estabelecimento de relações, se constituíram os laços necessários para o triunfo da nossa civilização, logo, da nossa própria espécie.

Por exemplo, na Pré-História, especificamente no Paleolítico o homem passou a formar grupos pequenos e com isso, conseguiu dominar a natureza, fabricar utensílios, usar trajes para se proteger do frio, usar o fogo e desenvolver a linguagem para se comunicar.

É através dos relacionamentos que damos e recebemos apoio emocional, favorecemos o nosso desenvolvimento e aumentamos as hipóteses de sobrevivência. Existe uma diversa e consensual evidência científica que a capacidade de formar relações está interligada com o nosso cérebro e numa perspetiva evolucionista muitas das nossas emoções como o amor, a vergonha e a culpa têm uma forte componente social que nos mantem conectados com os nossos grupos sociais e permitem-nos chegar mais longe. Nesta linha, também a nossa felicidade está intimamente ligada com os que estão ao nosso redor – a nossa família, os amigos, os colegas e os conhecidos.

Martin Seligman, considerado o precursor da Psicologia Positiva, desenvolveu estudos em torno da Felicidade e defende que que existem 5 fatores fundamentais que as pessoas com maiores níveis de felicidade vivem nas suas vidas e, se atendermos com especial atenção, iremos perceber que estão todos interligados e relacionam-se também com a componente das relações.

Vejamos então:

  • As Emoções Positivas – as pessoas mais felizes experimentam e alimentam ao longo do seu dia diferentes emoções positivas, proporcionando-lhes uma percepção de maior índice de felicidade.
  • A Realização – as pessoas mais felizes sentem-se bem-sucedidas e revelam maior autoestima.
  • O Compromisso – as pessoas mais felizes alcançam um maior estado de atenção focada na vida.
  • O Propósito – as pessoas mais felizes ligam as suas ações a algo maior do que elas, no cumprimento da sua missão e do reforço da sua identidade.
  • As Relações Positivas – as pessoas mais felizes estabelecem fortes relações positivas, de confiança e capazes de acrescentar valor reciprocamente.

Nesta linha, percebe-se que as relações humanas são, em todas as idades, o melhor antídoto para as vicissitudes da vida e um dos mais fortes preditores do bem-estar geral e da própria felicidade.

Quando este campo das nossas vidas está comprometido, com conflitos, ou simplesmente é estéril, pode surgir a solidão.

O conceito de solidão diferencia-se claramente do de isolamento social. O isolamento social corresponde à ausência de contactos sociais, provocada pelo contexto social e físico em que as pessoas habitam, por exemplo, zonas remotas ou urbanas – quando não há contatos, por ausência ou inacessibilidade de família e vizinha que prestem apoio.

Por sua vez, a solidão pode resultar do isolamento social, ou não. Por exemplo, pessoas que vivem isoladas ou sempre viveram isoladas, nomeadamente por opção pessoal, podem não sentir solidão, mesmo quando sentem falta de apoios para a manutenção da vida. Da mesma forma, o estar rodeado de gente não resolve os sentimentos de solidão, como se verifica em muitas situações de institucionalização.

Em termos teóricos, a solidão é um fenómeno transversal ao longo do ciclo de vida. Existe em todas as faixas etárias, podendo, no entanto, ter um impacto dramático (pelos condicionantes do próprio envelhecimento biológico, quando existe uma vulnerabilidade crescente; do envelhecimento social, no que toca aos papeis sociais; e ao envelhecimento psicológico, por exemplo, na autorregulação decorrente dos desafios) quando se é idoso.

A existência de uma rede de suporte afetivo, seja social ou familiar, é um elemento fundamental para o combate à solidão e de promoção do bem-estar e saúde física e mental.

Sabemos que não envelhecemos sozinhos, porque também não vivemos sozinhos. As relações interpessoais significativas, solidárias, voluntárias e espontâneas, são fortes determinantes para um envelhecimento saudável e ativo. E o envelhecimento prepara-se em todas as idades. Por isso,

  • estimule as amizades,
  • telefone a um amigo com quem já não fala há algum tempo,
  • faça voluntariado,
  • participe em grupos recreativos ou desportivos da sua comunidade.

As opções são muitas.

Às relações humanas corresponde um investimento em quem somos e como estamos, connosco e com os outros. E este investimento determina a nossa própria Qualidade de Vida e Bem-estar, ao longo da vida.

Seligman na sua obra: Felicidade Autentica, indica que ser social – entenda-se, o convívio e estabelecimento de relações saudáveis, é a forma mais bem-sucedida de adaptação superior que se conhece.