Agora que o verão acabou relembramos o a reflexão da nossa Psicomotricista, Cristina Rocha, no direto da Entre Idades Informa de agosto, às viagens de cada um de nós e que ficam gravadas na memória.
O mês de agosto tende a ser o período de eleição para muitos, para uns merecidos dias de férias. As opções são variadas, contudo em todas elas, quer seja a revisitar a sua terra natal, ou descobrir um novo local, existem sempre aventuras e histórias para partilhar e aprender. E as pessoas idosas podem ser as melhores transmissoras dessas mesmas histórias, porque viveram na primeira pessoa, ou aprenderam com quem as viveu. Mas também, continuam muito curiosas e expetantes por fazer novas aprendizagens.
Vou de seguida partilhar convosco alguns episódios pessoais, que pretendem ilustrar estas ideias, e com os quais eu me sinto muito grata. Em criança, ia com os meus avós à praia. A minha avó vendia tremoços, produzidos artesanalmente, cozidos e tratados pelo meu avô. A avó Maria, tinha trabalho para a tarde toda, mas supervisiona-nos, enquanto brincávamos na praia, pelo canto de olho, com a liberdade assegurada. Outras vezes, deixava-nos encher as medidas dos tremoços para os clientes, e fazer o troco, mas era ela que vendia, explicando depois porquê.
Depois, vim estudar para Lisboa. E, todos os verões voltava à minha terra natal, de comboio ou de autocarro. Também as minhas sobrinhas voltavam, à data bem pequeninas. Viviam no centro da Europa. Voltavam em agosto, com os pais. E, foi lá, na terra pequenina, que aprenderam a andar, a cair e a levantar, a falar e aumentar o número de palavras e a comer da melhor fruta, sempre acompanhados pelos avós e os bisavós. Durante todo o dia, havia sempre conversa entre as duas gerações, entre os avós e os netos com toda a atenção e dedicação de quem se ama.
No Alentejo, local de outros verões, reservava-se o final da tarde e noite, para nos sentarmos nas soleiras da porta, virada para a rua e ouvir as aventuras da mocidade dos outros. Ouvíamos histórias, histórias de vida, travessuras, ensinamentos partilhados pelos mais sábios, as pessoas idosas, quer familiares, quer vizinhos que passavam, que ficavam e contribuíam com o seu saber.
Ou seja, quer em ambiente familiar, quer na descoberta de locais novos, as pessoas idosas serão promotoras de histórias cheias de vida, que nos fazem descobrir mais sobre os locais, os hábitos, as tradições e as culturas.
E, garantidamente, estes serão momentos valiosos e promotores de níveis de bem-estar geral tanto para os mais novos quanto para as pessoas idosas. O seu sorriso, o entusiasmo, a recordação da narrativa contada é absolutamente contagiante.
Para além disso, podem ser enumerados outros benefícios para as pessoas idosas:
- Aumento do sentimento de pertença;
- Capacidade de ensinar o outro, através das próprias aprendizagens;
- Melhoria do desempenho da memória e evocação através da recordação de diferentes acontecimentos associados à própria história de vida, pessoal, familiar, profissional ou cultural;
- Aumento da autoestima e da autorealização;
- Melhoria da qualidade de vida.
E, também as próprias pessoas idosas podem e devem continuar a aprender. Por exemplo, no capítulo das tecnologias, os mestres poderão ser os mais novos que facilmente darão as instruções para os idosos tirarem as suas próprias selfies. Garantidamente e, como concordarão, serão momentos inesquecíveis e muito gratificantes. Para além de, poderem aprender outras ferramentas de utilização bastante úteis no seu dia-a-dia.
Mas também poderão ir conhecer novos locais, novas experiências gastronómicas, novos livros/filmes, ou outros interesses.
Na visita a locais novos, os visitantes para além de ficarem a conhecer as histórias típicas daquela localidade, também poderão partilhar outras experiências e realidades. Em muitas situações, ocorrerá ouvir-se dizer por parte das pessoas idosas que nunca saíram daquela localidade, pelo qual e garantidamente agradecem aquela aprendizagem.
No verão, o tempo parece ser maior, sem as rotinas definidas do quotidiano e, de certeza que os momentos de partilha das várias gerações, nos diversos contextos, irão valer muito a pena.
Partilhe connosco as viagens da sua vida.