O regresso à normalidade e o medo associado

Agora que se assiste ao regresso a uma certa normalidade e a retoma de alguns hábitos, como estão as pessoas idosas que acompanhamos a reagir?

Durante o período de confinamento, não se podia sair à rua, com exceções específicas. Durante esse período, a Entre Idades manteve um contacto próximo e constante, via telefone, com os seus utentes e alguns dos seus familiares. Através deles, pôde-se aperceber o impacto que esta situação estava a ter nas pessoas, no que concerne às suas necessidades, sentimentos e emoções vividas.

Estou muito preocupada … não durmo bem”, “Sentia-me mais seguro na guerra do que agora”, “Tenho tantas saudades do abraço dos meus filhos”, “Sabe, estou com muito medo, eu preciso muito de falar”, “Sinto falta de ir beber o meu cafezinho mas nem tudo é mau (…). Até consigo ouvir os passarinhos, chega a ser mágico”

Este acompanhamento de proximidade continuou com a nova etapa – o desconfinamento, que apesar de representar o regresso a uma normalidade (ainda condicionada), está a pôr a descoberto o forte impacto que o anterior período teve nas pessoas em termos de sentimentos e emoções experienciadas.

Assim, aquilo que o regresso a uma normalidade (apesar de restrita) deveria permitir o poder voltar a realizar as coisas que se estava habituado a (poder) fazer e viver com uma intensa sensação de liberdade (como é exemplo, a simples oportunidade de se poder sentar numa esplanada e beber um café), são experiências que agora se vivem de forma muito diferente e com alguma ansiedade.

 

Já posso sair, e agora?

O período de isolamento teve diferentes impactos nas pessoas e cada uma tem formas e estratégias diferentes para lidar com as alterações repentinas, impostas ao seu modo de funcionamento diário.

Quando se experimenta uma situação de stress prolongado, o risco de se desenvolver problemas psicoemocionais aumenta. Se o stress sentido for mais intenso do que aquilo que a pessoa se sente capaz de aguentar, esta pode desenvolver um conjunto de sintomas que a poderão limitar nas suas atividades de vida diária.

No que concerne aos nossos utentes, com o confinamento, verifica-se que algumas pessoas desenvolveram alguns de medos que as impedem de adotar esta “nova” normalidade de forma natural e segura.

 

Medos

Hoje em dia os canais de informação são muitos. E a informação em si, por vezes é tanta, que pode confundir. No entanto, se utilizar as fontes oficiais de comunicação para o Coronavírus – COVID-19, existe um conjunto de recomendações e normas de segurança e prevenção que neste momento são do conhecimento da maioria e que fazem toda a diferença na promoção da Qualidade de Vida e Bem-Estar, neste período tão atípico.

No entanto, apesar deste conhecimento mais generalizado sobre como agir e proteger-se no decorrer deste surto, o medo permanece entre as pessoas. E estes medos ganham força pois estão associados às atividades do dia a dia e ao que não se controla. Estas situações que representam um potencial perigo de contágio, invocam angústias como:

“depois de tanto sacrifício podemos deitar tudo a perder”

Assim, alguns dos medos que mais se têm evidenciado, relacionam-se com a existência de pessoas sem máscara ou com comportamentos de risco (cuspir para o chão), da falta de distanciamento social, e de locais fechados com fluxo considerável de pessoas (transportes públicos, elevadores, lojas).

“Agora está pior do que estava” “tenho mais medo de sair agora do que antes” “quando sai à rua nem conseguia mexer bem as pernas, parecia uma trôpega a andar”; “só de olhar para o homem na paragem enquanto esperávamos pelo autocarro até tremia”  “sai á rua e até era estranho, parecia que já não sabia sair” “Eu tenho muita vontade de sair, mas também tenho muito medo” “tenho medo de deitar tudo a perder numa saída, Depois de tanto sacrifício….” “ao início tinha muita vontade de sair e agora não me apetece”

 

Quando o medo é dos outros

Existe também aquele medo que não vem do próprio, mas sim de outros. A preocupação de que possa acontecer algo a alguém por quem se nutre um grande afeto, faz com que certos medos sejam partilhados. É o caso dos filhos de pessoas que fazem parte de grupos considerados de risco. Em que são os próprios filhos a serem geradores de determinadas limitações que vão dificultar o retomar de alguma normalidade para seus pais.

 

O que fazer?

Apesar de todos os riscos inerentes ao voltar a sair, sabe-se que ficar confinado ao espaço da casa, ao fim de um período mais ou menos longo, também representa um risco para a saúde física e mental da pessoa.

 

Assim, para além das medidas preventivas oficiais, e da importância que as pessoas mais próximas têm na facilitação deste processo, ficam aqui algumas dicas do que pode fazer ou ajudar o seu familiar a fazer, para lidar da melhor forma este voltar à rua:

  • Sair, mas ficar dentro do prédio ou junto da porta de residência (numa 1ª fase);
  • Passear ou fazer uma caminhada (inicialmente perto da sua casa);
  • Pedir a um familiar/pessoa próxima que a acompanhe;
  • Na dificuldade em usar máscara treinar primeiro em casa (pode usar o espelho);
  • Centrar-se no que pode controlar e não deixar que o comportamento do outro o/a limite;
  • Treinar a respiração (respirar profundamente vai ajudá-lo a acalmá-lo/a num momento de ansiedade:
    • Respirar de forma lenta e profunda, utilizando a barriga;
    • Reter o ar durante alguns segundos e expirar devagar;
    • Até se sentir mais calmo, mantenha esta respiração;
    • Durante este processo tente relaxar o corpo e ficar parado;
  • Praticar a consciência plena, ou seja,
    • Focar-se no que pode fazer e não no que não consegue fazer;
    • Não ter medo do que possa sentir;
    • Esperar que o que está a sentir e o transtorna passe, para continuar;
    • Para ajudar a acalmar pense em algo que o tranquiliza;
  • Respeitar o seu ritmo;
  • Praticar atividade física, dentro de casa, nas escadas do prédio e, gradualmente, fora de casa;
  • Manter e explorar a sua rede de apoio (não se isolar, conversar com pessoas da sua confiança, disponibilizar-se para ser ajudado, e procurar ajuda profissional caso lhe seja difícil lidar sozinho/a com as circunstâncias;
  • Aceitar as dificuldades que sente, identificar o que sente (expressando e partilhando o que está a sentir), compreender que não se pode controlar tudo (o que nos rodeia) mas pode-se aprender a gerir o que se sente e os comportamentos a ter;
  • Desenvolver rotinas positivas e saudáveis (ex: dormir bem, alimentação regrada);

 

A Entre Idades irá manter o apoio de proximidade às pessoas idosas que tem vindo a acompanhar, ajudando-as a minimizar os medos de sair, recomendando as ações de autoproteção a adotar e dando o suporte necessário.

Nesta fase da Pandemia Covid-19 (nos meses de março, abril e maio) realizámos:

  • 2420 Contactos telefónicos de proximidade
  • 48 Visitas domiciliárias de proximidade
  • 44 Acompanhamentos em Psicologia
  • 70 Acompanhamentos em Psicomotricidade
  • 117 Acompanhamentos em Fisioterapia

 

Se não é utente da Entre Idades e caso sinta necessidade deste acompanhamento, ou conheça alguém que possa beneficiar do mesmo, por favor contacte-nos.

http://entreidades.pt/precisa-de-ajuda/

Daremos o nosso melhor, técnica e humanamente, para que se sinta melhor.

 

Vamos ser todos agentes de saúde pública.

Vamos olhar pelos nossos.

Estamos juntos.

 

Esta atividade insere-se no âmbito Lxiis+, um projeto Entre Idades e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa.LXIIS+

logotipo CML
Com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa

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